Em seu novo comercial “Enfermidades”, de 30 segundos e veiculação nacional na TV aberta brasileira, a cervejaria “Skol”, da multinacional Ambev, comete sério estigma social contra os esquizofrênicos.
No comercial, que se propõe a mostrar “enfermidades típicas do verão”, é feito trocadilhos com nomes de doenças reais. Numa das cenas, o narrador anuncia: “Skolzofrenia” e em seguida aparece um indivíduo com metade do rosto com barba, e o outro não, e onde é dito: “Tá maluco, maluco.”, entre outras coisas. “Skolzofrenia” é uma clara alusão à “Esquizofrenia”, mas a equipe de criação comete o freqüente erro, de confundir “Esquizofrenia” com “Transtorno dissociativo de identidade”, transtorno onde acontecem as múltiplas personalidades, ao contrário da “Esquizofrenia”.
Se a equipe de criação tivesse feito uma breve consulta à Wikipedia, teria lido em bom português, que “Apesar da etimologia do termo, a esquizofrenia não implica uma cisão do eu ou em transtorno de personalidade múltipla (conhecido atualmente como transtorno dissociativo de identidade), uma condição com a qual é frequentemente confundida, na percepção do público.” além de “Segundo a OMS atinge cerca de 1% (da população mundial), sendo mais comum nos países de terceiro mundo.”.
Sim, a Skol está ofendendo uma “minoria” de quase dois milhões de pessoas, somente no Brasil.
E o comercial vai mais longe. Numa cena de apenas meio segundo, o que levantam suspeitas de propaganda subliminar, exibe um indivíduo arrancando a parte superior do biquíni de uma mulher, com a boca e em público, enquanto o narrador diz “Skolzofrenia”. É visível que a mulher está sendo vítima de agressão sexual, pois além da expressão do rosto, ela esconde com uma das mãos os seios nus, e com a outra tenta puxar o biquíni que está na boca do individuo. Propaganda subliminar? Incentivo à violência sexual?
A Ambev, empresa do grupo Anheuser-Busch InBev, possui em seu portfólio marcas internacionais de cerveja, como Budweiser, Franziskaner Weissbier, Hoegaarden, Leffe, Quilmes e Stella Artois, além das marcas brasileiras Antarctica, Bohemia, Brahma e Skol, entre outras.
A criação do comercial é de um grupo de premiados publicitários: Eduardo Lima, Pedro Prado e Rodrigo Castellari, da agência “F/Nazca Saatchi & Saatchi”. O “Head of Art”, função em que se deve, entre outras coisas, analisar se não há nenhum tipo de conteúdo na peça que possa ser entendido como motivo de preconceito, é João Linneu.
O vídeo do comercial no Youtube, já teve mais de um milhão de visualizações (25/12/2012 19:00), e tal comercial será a principal comunicação da marca até o carnaval.
Finalizando, faço o seguinte questionamento: Se o estigma fosse contra um “afro descendente” ou um “indivíduo de orientação homossexual”, ao invés de um “doente mental”, a opinião pública seria também tão tolerante?
Este é o grito silencioso de um esquizofrênico, contra uma gigante multinacional.
Links:
Vídeo oficial do comercial no Youtube;
Vídeo do comercial no site da “F/Nazca Saatchi & Saatchi”;
Imagem: Artigo sobre o comercial no site da “F/Nazca Saatchi
& Saatchi”;
Imagem: Matéria sobre o comercial no site do
“meio&mensagem”, conceituado jornal com informações do meio publicitário;
“Mensagem subliminar” na Wikipédia;
“Esquizofrenia” na Wikipédia;
“Estigma social” na Wikipédia;
“Transtorno de personalidade múltipla” na Wikipédia;
“Transtorno dissociativo de identidade” na Wikipédia;
O que é um Head of Art no site “O que é?”.
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